A aquisição de linguagem no desenvolvimento infantil acontece de forma evolutiva. O progresso é dado inicialmente por conquistas referentes às habilidades de comunicação chamadas de não-verbais. Estas habilidades são frequentes nos anos iniciais de vida: apontar, manter um bom contato visual, compartilhar a atenção e a capacidade de interagir com intenção comunicativa. Todas essas habilidades de comunicação constituem marcos chamados de precursores para o desenvolvimento da linguagem da criança. Concomitante a eles, as produções verbais são realizadas pelas crianças e o grau em que elas acontecem vão emergindo conforme o crescimento. Inicialmente com vocalizações, posteriormente com balbucios e as primeiras palavras no primeiro ano de vida.
Aos dois anos, espera-se que a criança seja capaz de produzir duas palavras associadas. Ainda, nesta etapa acontece produção de frases curtas, como por exemplo “Eu quero água!”, com possível distorções dos sons. Nesse momento, a produção dessas palavras não precisa ser totalmente inteligível.
Quando já nesse período são observados atrasos referentes a esses marcos, é importante a busca por um profissional capacitado. . Os tipos de atrasos primários da fala e da linguagem incluem o atraso no desenvolvimento da fala em que não há outra condição que possa comprometer o desenvolvimento. Atrasos secundários de fala e linguagem podem ser atribuíveis a outras condições. Como por exemplo: perda auditiva, deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista.
A intervenção precoce, refere-se à intervenção realizada nos primeiros anos de vida. Essa intervenção tem se mostrado eficaz porque maximiza um período muito favorável para a criança. Ainda, esta modalidade de intervenção tem inúmeros benefícios para a criança. A neuroplasticidade (de maneira simplificada, a capacidade adaptação do cérebro a mudanças) pode ser aproveitada para acelerar os resultados da criança, ampliar a eficácia desse trabalho através do enriquecimento de seu desenvolvimento em terapia e em seu ambiente familiar. Sendo assim, é um período extremamente propício! Conforme a criança vai crescendo, as aquisições de outras habilidades são esperadas. Assim, consequentemente, ocorre um refinamento na capacidade de comunicação e habilidades sociais.
Quando a intervenção é iniciada de maneira precoce, em uma condição de atraso primário de linguagem, é esperado que a criança apresente uma rápida evolução. Caso não haja um comprometimento de outra ordem, os resultados positivos surgem no período de 3-4 meses. No processo terapêutico são inseridos contextos em que a criança precise utilizar habilidades de comunicação (não verbais e verbais) para interagir com o seu interlocutor. Além disso, a criança é exposta à contextos funcionais onde brincadeiras com simbolismo são realizadas. Portanto, um ambiente dirigido e favorável para a estimulação da comunicação da criança. Associada às terapias, são realizadas orientações aos familiares para que o processo de estimulação aconteça não só dentro de sessão, mas também em casa.
Vale ressaltar que o responsável da criança não será seu terapeuta e sim, um aliado extremamente importante para a eficácia da intervenção. O trabalho da fonoaudiologia e o ambiente familiar devem estar alinhados para que o paciente vivencie contextos favoráveis para a comunicação em ambos os locais, visando sempre seu progresso. A alta para pacientes com atraso de fala acontece quando a criança consegue alcançar as habilidades esperadas para a sua faixa etária, eliminando a latência encontrada em seu desenvolvimento durante a avaliação inicial.
Fonoaudióloga graduada pela Universidade Federal de São Paulo. Especialização em Linguagem e Fala em andamento pela Universidade Federal de São Paulo. Atua principalmente em alterações no desenvolvimento de fala e linguagem, como Atraso na Fala, Transtornos do Desenvolvimento de Fala e Linguagem, Autismo e Intervenção Precoce.
CRFa: 2-21738