Muitos familiares chegam ao consultório com a queixa de que o filho fala pouco, mas que ainda assim entendem o que a criança quer. Esta queixa é um guarda-chuva imenso quando estamos falando sobre alterações de linguagem e fala. Assim, existe uma enorme variabilidade de alterações ou de padrões diferentes do curso típico de desenvolvimento.
A anamnese é 50% do diagnóstico e acompanhamento da criança. Logo, com uma anamnese bem feito conseguimos levantar possibilidades e até mesmo derruba-las. Ainda, é na anamnese que descobrimos o curso do desenvolvimento daquele indivíduo.
O apontar está diretamente relacionado com o pedir. Esta, é uma das formas iniciais de comunicação não-verbal. Não é incomum ouvir “eu entendo tudo que ele quer” mesmo quando a criança não produz 2 ou 3 palavras funcionais.
A partir do momento que aceitamos um padrão comunicativo da criança, ela pode generalizá-lo em diversos contextos. Como por exemplo, o choro. O choro, frente à uma frustração, não deve ser reforçado em momentos de comportamentos inadequados. Isto muitas vezes ocorre quando cedemos o desejo da criança mesmo quando não deveríamos. Desta maneira, a criança pode estender tal comportamento, entendo que ele é uma forma efetiva para se obter algo. O mesmo pode ocorrer com o apontar, quando a criança aponta e nós não a questionamos, simplesmente entregamos o item desejado, estamos aceitando aquele modo de comunicação. Desta forma, tornamos a comunicação não-verbal mais funcional do que deveria ser para aquele momento.
Sendo assim, é importante estimular os aspectos de fala junto ao apontar. “O que você quer?”, “você quer suco ou água?”, “ah! Você quer beber água?”, as frases como narrativa do apontar devem ser ressaltadas e valorizadas. Ainda assim, é importante lembrar que devemos sempre fornecer o exemplo para a criança. Ou seja, como ela deveria solicitar algo: “Eu quero ÁGUA! Você quer beber ÁGUA”. Nestes contextos, as palavras alvo devem ser valorizadas e enfatizadas para direcionar a atenção da criança.
Além disso, o uso do olhar também deve fazer parte destas situações. Logo, leve objetos próximos ao rosto para nomeá-los, sente-se sempre na altura da criança para brincar e solicite o olhar da criança direcionado ao seu levando o objeto de desejo próximo à você. O direcionamento do olhar também é parte da comunicação, pois além de indicar a atenção, ele também representa intenção de se comunicar.
Por fim, ressalto que o apontar é sim importante, porém não deve ser aceito com única forma de comunicação. AMPLIE-A!
Graduada pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO em Fonoaudiologia.
Mestre em Ciências pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO.
Doutoranda em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO.
Experiência em alterações de fala infantil, como: apraxia de fala na infância, autismo, comunicação alternativa (PECS), gagueira, atraso na fala e transtorno fonológico. Além disso, atua com orientação parental voltada ao desenvolvimento infantil.
CRFa 2-20413