Favorecendo o desenvolvimento de linguagem em crianças com TEA

A linguagem é realmente algo surpreendente ao longo do desenvolvimento. A influência do interlocutor na linguagem da criança é um dos pontos relevantes para esta. Sendo assim, você sabia que você tem grande influência na fala e habilidades linguísticas do seu filho?

O nível de frases utilizadas pelos pais favorece a linguagem dos filhos.

Um estudo publicado em 2019 analisou a linguagem que crianças com desenvolvimento típico e crianças verbais com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e seus pais usavam. Ao final do estudo, que durou 2 anos, os pesquisadores descobriram que:

1. O nível linguístico das crianças previu o tipo de linguagem que seus pais usaram com eles vários meses depois. As crianças que usaram frases mais complexas tiveram pais que usaram mais palavras novas com seus filhos na próxima visita domiciliar. Ou seja, os pais ampliavam a complexidade e variedade dos novos vocábulos já que a criança apresentava bom desempenho. Além disso, crianças com TEA que usaram um número maior de palavras tiveram pais que usaram frases mais complicadas com elas na próxima visita. Desta forma, os pais percebem o nível de linguagem de seus filhos e aumentam seu próprio nível de linguagem em resposta.

Sendo assim, isto ressalta a importância de estimularmos as crianças com novas palavras e estruturas ALÉM do que elas já estão habituadas.

2. A estrutura frasal dos pais previu o nível de linguagem dos filhos vários meses depois. Os pais que usaram frases mais complicadas tiveram filhos que usaram frases mais complicadas. Portanto, isso significa que, tanto para crianças com desenvolvimento típico quanto para crianças verbais com TEA, quando os pais usam frases um pouco mais avançadas do que as próprias crianças estão usando, isso beneficia o aprendizado futuro das crianças.

O interlocutor deve estar sempre um passo a frente da criança.

Portanto, o estudo ressalta que a troca comunicativa entre pais e filhos e a função de interlocutor são extremamente relevantes para o desenvolvimento de fala e linguagem. Isso significa que os pais estão sintonizados com as habilidades de seus filhos. Assim, o que seu filho diz afeta a maneira como você fala com ele. Logo, se seu filho fala frases simples, é provável que você fale frases simples ao interagir com ele.

As crianças verbais com TEA estão prestando atenção à linguagem de seus pais o tempo inteiro. As atividades diárias, as brincadeiras e todo o contexto que a criança está inserida deve ser narrado! Desta maneira, o que você diz é importante porque afeta a aprendizagem de seu filho.

Mas, como falar para que seu filho possa aprender?

O objetivo é estar apenas um passo à frente de seu filho. Assim, se você usar uma linguagem muito complicada ou simples, seu filho terá dificuldade em aprender com a linguagem que você usa quando fala com ele. Quando seu filho enviar uma mensagem (com uma palavra ou frase), pense no que ele está tentando dizer. Pense em como ele diria se pudesse, e proporcione à ele o exemplo. O adulto deve estruturar sempre de uma forma nova, um passo a frente do que ele está. Além disso, é importante valorizar a repetição daquela nova estrutura em diferentes contextos para que o aprendizado seja solidificado.

Sendo assim, quando seu filho responder utilizando apenas uma palavra, aplique aquela palavra em uma frase simples. Valorize a expressão do seu filho, assim ele entenderá a natureza do COMUNICAR!

Referências:

1. Fusaroli, R., Weed, E., Fein, D., & Naigles, L. (2019). Hearing me hearing you: Reciprocal effects between child and parent language in autism and typical development. Cognition, 183, 1-18.

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   Fga. Heloisa Gonçalves

   Graduada pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO em Fonoaudiologia.
   Mestre em Ciências pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO.
   Doutoranda em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO.

   Experiência em alterações de fala infantil, como: apraxia de fala na infância, autismo, comunicação alternativa (PECS), gagueira, atraso na fala e transtorno fonológico. Além disso, atua com orientação parental voltada ao desenvolvimento infantil.

   CRFa 2-20413